Casal Mundo Afora - Registros de uma viagem mundo a afora.

domingo, 26 de julho de 2015

Travel log #19 - Despedida do Sudeste Asiático


(por Everton)

Olá amigos, já faz um tempo que não atualizamos o blog. Estivemos envolvidos com tantas coisas, em tantos lugares e este post vai ser um sumário de nossos útimos dias de Sudeste Asiático, antes de partirmos para nosso próximo e misterioso destino, a India.

Laos

Seja nos livros ou no contato que tivemos com pessoas durante a viagem, a informação era sempre essa: o Laos é o país mais pobre da Ásia. Depois de tantos comentários, criamos até uma certa expectativa negativa sobre o país, antes mesmo de chegarmos.

Cruzamos a fronteira de ônibus pelo sul do Laos, vindo de maravilhosos dias no Vietnã. Mas antes de conseguirmos sair do país dos Vietcongues, passamos por uns perrengues. Pegamos um ônibus bem velho, com visível falta de manutenção e com um único motorista dirigindo por quase 24h (ele tomou 9 latas de Red Bull durante o trajeto). Este trecho é chamado por muitos de Nightmare Trip (viagem pesadelo). Chegamos no posto de checkout do Vietnam e ficamos indignados com a cobrança descarada de propina para que carimbassem a saída em nosso passaporte. Havia mais estrangeiros no ônibus e acabamos nos unindo para tentar não pagar o "por fora" para os agentes da alfândega, mas não teve jeito. Após mais de uma hora de chá de cadeira, percebemos que inclusive os locais eram obrigados a pagar esta "taxa". O mais curioso é que os agentes simplesmente amontoavam todo o dinheiro que recebiam em cima da mesa, sem cerimônias para esconder. Acho que não preciso dizer que não ganhamos nenhum recibo do que pagamos, né? Esta corrupção deslavada me lembrou de um certo país lusófono da América do Sul...

Embora a saída do Vietnã tenha sido um pouco estressante, assim que entramos no Laos, o Visa on Arrival (a concessão de visto na entrada do país) foi muito rápido e eficiente, então após mais algumas horas de viagem, chegamos na capital do país, Vientiane.

O que mais chamou a atenção ao pisarmos em solo Laotiano foi a quantidade de caminhonetes e carros alto padrão nas ruas. Sério, me senti na Europa, em um país bem rico. Carros de luxo não eram os únicos a chamar a atenção. A arquitetura, inspirada no estilo francês, é um charme a parte.

O Laos foi um país por muito tempo dominado pela França, o que explica a diversidade de comidas, padarias e restaurantes na cidade que tem pouco mais de 200 mil habitantes. Imagine a capital de um país (e a maior cidade) com apenas 200 mil pessoas. Este é o ponto alto do Laos. Não há superpopulação, as coisas andam num ritmo mais lento e muito diferente da loucura do Vietnã.  

Foi nesta cidade que solicitamos o visto para India. O que aconteceu é que antes de solicitarmos o visto, verificamos no site da embaixada que o tempo para emissão seria de 3 dias úteis. Fizemos nosso planejamento considerando estes 3 dias e então seguiríamos viagem. Entretanto, ao entregarmos nossos passaportes na embaixada, o atendente nos informou que ficaria pronto somente em uma semana! Uau! Uma semana esperando um visto, que para os cidadãos do Laos é emitido no mesmo dia!!
Ok, teríamos a opção de viajar para algumas cidades proximas e então retornarmos para buscar os passaportes em uma semana. Mas viajar sem passaportes, em um país que não possui embaixada do Brasil não pareceu muito seguro. Tínhamos acabado de chegar e ouvidos muitas histórias de terror de outros turistas que tiveram problemas naquele território, então eu optei ficar na mesma cidade até que o visto ficasse pronto.

Decisão acertada! Não que haja muito o que fazer na capital. Na verdade, além das feirinhas de comida e roupas que acontecem todas as noites e templos budistas, não havía muito o que visitar. Mas foi excelente pra tirarmos um tempo pra gente, "férias das férias". Parar de se mover um pouco e simplesmente reduzir o passo.

Um local que valeu muito a pena a visita foi o COPE, que é uma espécie de ONG que dá assistência às pessoas que perderam membros (pernas, braços) por conta de explosões de minas terrestres. Foi curioso e triste saber que o Laos foi o país mais bombardeado da história (per capita). Aviões estadunidenses e de muitos outros países despejaram milhões de bombas sobre o território do país. Grande parte destas bombas não eram de explosão imediata, mas minas terrestes (ou munição anti-pessoal), que jogadas do céu às milhares, se instalavam no solo esperando o inimigo pisar nelas para serem detonadas.

Infelizmente o território ainda está infestado dessas minas e na média há mais de uma vitima por dia, resultando em mortes ou perda de membros. Estas minas afetam muito o desenvolvimento do país, pois impedem a construção de novas estradas, prédios e inclusive sistema de água e esgoto nas regiões remotas. Como o país é extremamente agrícola (somente 25% da população vive em cidades), praticamente todos os acidentes ocorrem com agricultores.
 

O COPE presta auxílio gratuíto às vitimas e funciona somente com doações do exterior. Aos que podem e querem ajudar, eu recomendo acessar o site do instituto (procure no Google por COPE Laos) e faça uma doação. O custo de uma perna para uma pessoa atingida por uma mina, incluindo o tratamento de fisioterapia, é de apenas US$75,00. Ao invés de comprar um produto de uma marca famosa - que ficará obsoleto em menos de um ano -, que tal mudar a vida de uma pessoa, dando uma perna à ela? Você pode fazer a diferença na vida de alguém!

O trabalho de remoção das minas é muito lento, pois precisa ser feito por pessoas treinadas, com detectores de metais. Imagine o tempo e dinheiro necessário para cobrir 100% do território do país, procurando por bombas não explodidas...

O Laos foi pioneiro na ONU na luta pela proibição da fabricação, estoque e utilização de munição anti-pessoal, pois sentiu (e sente até hoje) as consequências devastadoras deste tipo de armamento. Diversos países do mundo já assinaram este tratado, com exceção de alguns poucos como os Estados Unidos e, pasmem: o Brasil!

Depois de nossa semana descansando, pegamos os passaportes e partimos para outras duas cidades. Vang Vien onde pretendiamos fazer passeio de balão, mas infelizmente era tempo das monções e nada de balão por la! Visitamos uma enorme caverna no alto de uma montanha! Depois seguimos para a Luang Prabang. No geral gostamos da simplicidade, organização e do ritmo mais lento do que os outros países. Além disso, foi em Vientiane que comemos o melhor Pad Thai de toda a viagem!





Algo que chamou muito a atenção foi a quantidade de bandeiras comunistas nas ruas da capital, nas casas e no comércio. É incrível o poder que um governo comunista tem sobre o povo. Bem, comunistas é a última coisa que eles são no Laos, mas é claro que ao governo ainda convém levantar esta bandeira. Assim como no Vietnã, o governo controla todos os meios de comunicação. O único jornal em inglês é pesadamente censurado. Toda a mídia é a do estado e, apesar de haver muita pobreza no interior do país, a capital é farta de carrões! O principal pilar da doutrina comunista - a distribuição de renda e a igualdade - não é nada seguida por aqui. Há bastante investimento externo no país e os "ex-camaradas" aprenderam como é bom ter uns dólares no bolso. Na prática, o comunismo continua a ocorrer, mas somente no que é relacionado ao controle do povo.  

Isso estranhamente me lembra as medidas que o PT estava tentando aprovar para censurar a mídia no Brasil. Vou falar mais sobre o "comunismo" e sua identidade  atual em um post mais adiante, depois de nossa visita à Russia.

De volta à Tailândia


Já tínhamos visitado o país quando viemos da Malásia, e viajamos do extremo sul até Bangkok. Mas faltava o norte, que deixamos pra fazer na volta.

Chegamos por terra, em quase 20h de viagem à Chiang Mai, onde passamos somente uma noite antes de partirmos para uma fazenda trabalhar como voluntários. Quando nos candidatamos, imaginamos algo diferente do que encontramos: O local era uma comunidade, formada por estrangeiros, mas sem gerentes, chefes, donos e etc...

A ideia é a de que todos trabalhem em conjunto no que for necessário e espera-se que as pessoas sintam a responsabilidade de fazer os trabalhos sem que ninguém tenha que pedir. Um modelo de "gestão" que eu compararia à um sistema anárquico, se é que posso chamar assim. Lá encontramos diversas pessoas interessantes, com pontos de vista ainda mais interessantes. Foi uma troca de experiências muito enriquerecedora e mais uma vez pudemos constatar que não é necessário muito para ser feliz.


Mais uma semana se passou e voltamos à Chiang Mai, para nos despedirmos do sudeste asiático. De lá, partimos para Bangkok, pegar nosso vôo para a India, mas isso é história pra outro post!

A Tailândia é um país grande, com grandes contrastes. No sul vimos muita pobreza e conflitos militares para a separação do país. Mais ao centro, visitamos ilhas que, apesar de não serem "paraísos", foram legais pela vibração que encontramos. Em Bangkok, encontramos uma cidade gigante, com sérios problemas de trânsito, mas uma capital limpa e bem organizada. Foi uma excelente surpresa! Agora por último o norte, não tão saturado de pessoas, com muitas roupas baratas e boas opções de comida de rua. Foi surpreendente ver a qualidade das estradas que ligam a capital ao norte do país. Mais de 500 km com 3 faixas e alguns locais com até 5 pistas. Sem sombra de dúvida eles estão bem a frente do nosso Brasilsão!

Falando ainda em estradas, não encontramos em nenhum país de todo o Sudeste Asiátio estradas realmente precárias como as que vimos constantemente no interior do Brasil.

Despedida!

Apesar dos contrastes que encontramos aqui, a experiência foi muito enriquecedora. Pudemos conviver no meio de Budistas, Hindus e Muçulmanos. Pudemos experimentar choques culturais no trânsito, no comércio, na comida, na política, no dia-a-dia das pessoas. Ontem mesmo eu conversava com a Lisa e comentava como eu já me sinto outra pessoa depois deste tempo por aqui. As experiências foram transformadoras.

É incrível, mas já estou com saudades dos lugares que visitamos e também do 7 Eleven!!!

Thank you, Southeast Asia! It was a wonderful time there!

4 comentários:

  1. Até que enfim reapareceram!!!!!! Estávamos preocupados com o sumiço de vocês.
    Cada experiência fantástica que vocês estão tendo a oportunidade de vivenciar. Abraços compadres!!!

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  2. Oieeeeeeeeeeeeeeee!!! Que bom que voltaram a dar notícias!!! Lindíssima a foto desse post! Dá pra sentir daqui a felicidade e a realização de vcs com essa fantástica experiência!!! Bjsssssssssss!!!

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  3. Nossa Gente..Quanta informação, experiências maravilhosas. Realmente dá pra visualizar no sorriso de vcs o bem dessa viagem..Curtam e aproveitem!!! abraços Leila e kemmel

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  4. Everton e Lisa!! Quem bom que vcs escreveram!!!! Valeu pelo relato de Laos.. Imagina só uma cidade infestada de minas terrestres ainda hoje em dia... Me dá até calafrios.. Abraços aos dois..

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