(por Everton)
Falar sobre a Alemanha não requer muito esforço. Este é um país que já havíamos visitado anteriormente e foi parada obrigatória nesta viagem. Tínhamos nos comprometido de encontrar alguns amigos por lá e então partimos pra mais uma visita à este país fantástico. Esta foi uma visita diferente, pois ficamos uns dias longe dos grandes centros turísticos, em uma pequena vila no interior do país. Passamos a maior parte do tempo no estado de Baden-Württemberg, bem pertinho da Bavária. A vila em que ficamos tinha pouco mais de 200 habitantes, então pudemos experimentar o dia-a-dia de uma pequena localidade do interior.
A Alemanha é um país que me fascina. É impressionante como praticamente tudo é preciso e de alta qualidade. Muitos dizem que os alemães são "fechados" e não gostam muito de conversar, mas eu não concordo muito. Basta sentar num bar ou restaurante e tomar uma cerveja que você já faz amigos! :) Acredito que o estereótipo de ser um povo "fechado" foi criado por consequência da Segunda Guerra Mundial, ou mesmo pelo fato de eles estarem sempre ocupados trabalhando... e como trabalham! As pessoas que conhecemos trabalham muitas horas por dia, se dividinho em diversas obrigações... tivemos a oportunidade inclusive de acompanhar o trabalho de algumas pessoas e comprovar sua organização e eficiência.
Como tivemos contato com agricultores, preciso mencionar as enormes diferenças que existem com o Brasil... se é que é possível comparar algo. Pra começar, é evidente o apoio que o governo alemão dá aos seus agricultores. Todas, absolutamente todas as estradas rurais são asfaltadas! Sabe aquelas estradinhas de terra que são comuns no nosso país, que quando chove vira um lamaçal e dificulta a vida de quem precisa se locomover? Elas simplesmente não existem! Desde as estradas "principais", até as pequenas vias que ligam as casas dos agricultores, todas são asfaltadas. E o apoio do governo não pára por aí. A cada ano, o governo dá um incentivo em dinheiro para os produtores que trabalham na terra. Esta ajuda é de 300 Euros por hectare. Considere um agricultor de médio porte com cerca de 50 ha, que trabalha com a terra (mas precisa trabalhar! Não é como o bolsa família que não exige nada em troca!), ele receberá por ano o total de 15 mil Euros! Só por se manter em suas atividades rurais...
Típica estrada rural na Alemanha
Um fato que chama muito a atenção é a quantidade de implementos agrícolas que eles utilizam. Eles têm máquinas para tudo! Como é raro (e caro) encontrar pessoas pra trabalhar na terra, geralmente é só o casal que trabalha com tudo. Preparando a terra, plantando, colhendo, cuidando dos animais, processando alimentos para vender, enfim... Tudo é feito somente pela família e por isso a necessidade de tanta automação.
Além de todos os implementos para viabilizar o trabalho no campo, é extremamente comum encontrar painéis fotovoltaicos (geradores de eletricidade solar) sobre os telhados das casas. Não é um ou dois... são dezenas de painéis cobrindo os telhados. Há também "usinas geradoras", onde se vê centenas de placas captadoras de energia solar instaladas pelo campo. Toda a energia produzida que não é consumida, é enviada à rede pública e eles recebem por isso. É como se cada casa fosse uma pequena usina geradora de eletricidade, alimentando todo o sistema. Eu comentei com um morador que se eu instalasse isso no Brasil, muito provavelmente eu seria furtado na primeira oportunidade, devido ao alto custo do equipamento para nós. Eles não conseguem entender isso!
Outra coisa difícil de entender pra eles é a corrupção na América Latina. Quando estávamos por lá, saiu uma reportagem no jornal, dizendo que o Brasil estaria entrando em crise econômica. Eles acharam muito estranha esta notícia, já que até então ouviam dizer que o Brasil tem uma economia forte e estável e que o governo brasileiro está fazendo um bom trabalho por lá. Comentei que a verdade não é bem essa e citei o exemplo do valor do Euro que, pouco antes de iniciarmos nossa viagem, a cotação era de 1 Euro = R$ 2,89 e agora o mesmo Euro já custava R$ 4,30 (mais IOF de 6,38%!). Já é difícil explicar o desgoverno e toda a corrupção que comanda Brasília, quanto mais a artificialidade da cotação do Real que foi "congelado" até passarem as eleições. Simplesmente não entra na cabeça de um alemão como pode o governo roubar e não acontecer nada com os culpados e ainda por cima os culpados serem reeleitos.
Já ouvi brasileiros dizendo que é o cúmulo que os alemães param quando o sinal de pedestres está vermelho e não atravessam a rua mesmo se não há carros vindo. Pois é, esta é uma pequena mas importante diferença entre um país que é uma potência e um país onde a maioria dos cidadãos quer levar tudo no jeitinho. Se a lei diz que o pedestre só deve andar com o sinal verde, por que os alemães desrespeitariam a lei? É uma questão de educação, simples assim. Quem sabe um dia os brasileiros comecem a seguir as regras, mesmo quando não tem ninguém olhando... quem sabe um dia, a grande maioria dos brasileiros aprendam a importância de pensar coletivamente como sociedade e não somente no próprio umbigo.
Um outro exemplo é o respeito aos limites de velocidade nas estradas. Apesar da Alemanha possuir as Autobahn, que são autoestradas sem limite de velocidade máxima, isso não é motivo para desrespeitar os limites nas estradas secundárias. Observei por diversos dias como os carros reduzem a velocidade, respeitando as placas de trânsito, sem que para isso seja necessário construir lombadas ou instalar radares.
Conhecemos uma professora de alemão para estrangeiros, que comentou sobre os estudantes brasileiros que foram ao país pelo "Ciências sem fronteiras". Ela disse que a grande maioria chegou ao país sem saber nem o básico do básico da língua alemã. O governo brasileiro paga um curso rápido de alemão para que os estudantes recém-chegados atinjam o nível universitário, antes de irem para a universidade. Agora imaginem os estudantes que não tem a mínima noção da língua germânica (alguns não falavam nem inglês) serem enviados para universidades para estudar... grande parte destes pseudo-estudantes aproveitava que suas despesas estavam sendo pagas pelo governo para simplesmente fazer turismo e festas no país. Quando perguntei se não era necessária alguma pré-seleção para verificar o nível de conhecimento na lingua alemã, ela me disse que o governo brasileiro pede uma avaliação pela Internet e que assim fica fácil pedir para algum professor (ou pessoa com conhecimento da língua) fazer a prova pelo aluno.
Esta professora comentou da péssima imagem que os brasileiros deixaram nos últimos anos, devido ao "fiasco" com os estudos. Nos sentimos envergonhados por mais essa! Ela disse não entender tamanha desorganização do governo brasileiro, enviando estudantes despreparados para um país onde não conhecem a língua e queimando dinheiro público com isso! Eu também não entendo isso e principalmente essa atitude dos que vão em busca de turismo, sem aproveitar uma oportunidade tão importante como esse "Ciência Sem Fronteiras", que consideramos a única coisa boa feita pelo PT. Quado estamos fora do nosso país somos embaixadores do mesmo e tudo o que fizermos será sempre associado ao comportamento padrão de toda uma nação.
Voltando às coisas positivas... os preços são muito atrativos no país. Os supermercados são surpreendentemente baratos e os produtos são de altíssima qualidade. É impressionante que mesmo com o valor do Euro tão alto para nós, encontramos produtos muito mais baratos que no Brasil. De comida à cerveja, se gasta muito pouco e se enche o carrinho!
Tivemos ainda uma experiência cultural de conhecermos a Herbstfest, a "Festa do Outono", que é muito similar à Oktoberfest. Pra quem não sabe a Oktoberfest é exclusiva da região da Bavária, sendo que Munich é a sede da maior festa. Entretanto, em todo o restante do país ocorrem festas similares, só que com outros nomes. As músicas, os trajes e as comidas são muito semelhantes. Mas há uma diferença bastante marcante com as oktoberfest do Brasil: na Alemanha, as pessoas não dançam! Ficam todos sentados às mesas, curtindo a música e tomando suas canecas de 1 litro de cerveja. Sim, cerveja, por que "chopp" só existe no Brasil. Assistimos também a um desfile típico da região, revivendo o passado daquele povo e foi muito bacana!
Enquanto estávamos em Munich, presenciamos centenas de imigrantes sendo recebidos na estação de trem, vindos da Áustria e de outros países. A chanceler Angela Merkel havia prometido abrigo aos refugiados dois dias antes de nossa chegada. Logo após, a estação de trem parecia um acampamento de guerra. Todos que chegavam eram examinados por médicos e assim que liberados, iam de ônibus para abrigos em outros locais. Havia um forte esquema de segurança e algumas pessoas dando boas vindas aos refugiados. Há muita controvérsia de opiniões na Europa por conta da decisão da Alemanha querer abrigar os refugiados. Como não há mais controle de fronteiras entre os países do tratado de Schengen, estes imigrantes podem circular livremente dentro da Comunidade Europeia, o que está preocupando líderes de países não tão abertos à receber os refugiados. Nos sentimos assistindo de perto a um capítulo importante da história mundial.
É notório que a Alemanha seja uma das grandes potências do mundo. Há tantas diferenças entre os germânicos e os tupiniquins que renderia um livro... A pontualidade e eficácia dos sistemas de transporte, as rodovias em perfeitas condições, a polidez a educação do povo, o conhecimento de outros idiomas, da música, a dedicação ao trabalho. Enfim, os alemães fazem por mecerer a posição que têm no mundo. Após as guerras, a vergonha pelo nazismo, a divisão do país, a reunificação e a consolidação de sua economia, o país se reestruturou para ser uma das nações mais ricas do planeta.
Há tanto mais para dizer, mas por hoje é só... Afinal, temos que comemorar os 7 meses de viagem que completamos hoje!
Um abraço a todos que nos acompanham!
Cena comum nos trens... Bicicletas!
Dando uma voltinha por Munich!