Casal Mundo Afora - Registros de uma viagem mundo a afora.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Travel log #22 - Finlândia

(por Everton)

Após nossas maravilhosas experiências na Rússia, demos um pulinho até a Finlândia, país nórdico que fica muito perto de São Petersburgo, nossa última parada da Rússia. Fomos de ônibus cruzar a fronteira terreste e haja fila de Russos para entrar no territórrio fanlandês!

Apesar do país já ter pertencido à Rússia entre 1809 e 1917, após o desmembramento da Suécia, hoje os Russos precisam de visto para entrar no território que é parte da União Européia. Isso explica o motivo de demorarmos tanto para conseguirmos atravessar a fronteira. Quase 2 horas!

Antes mesmo de chegarmos, já sabíamos que estaríamos entrando em um dos países mais caros do mundo. Reservamos o hotel mais barato que encontramos por nada menos de US$ 110,00! Isso é um preço bem acima de qualquer média até agora. Os hósteis na região central custavam cerca de US$ 70,00 por pessoa, para quartos compartilhados, quase o triplo da Austrália e Nova Zelândia. Por conta dos preços exorbitantes, a nossa estadia no país foi curta. Imaginem que com apenas uma noite de hotel, poderíamos pagar 10 diárias na Tailândia em um hotel à beira mar... Mas a Finlândia não é a Tailândia.




Este é um dos países com melhor qualidade de vida e renda do mundo e suas cidades estão classificadas entre as mais limpas, seguras e organizadas de todo o globo. Sentimos isso na pele ao pisarmos em Helsinke. A cidade é magnífica e banhada pelo Mar Báltico. Chegamos em pleno verão, com dias perfeitos, céu azul e muita gente nas ruas! 



Por conta do alto poder aquisitivo da população e da história dos países nórdicos, a navegação recreativa é amplamente difundida e posso até arriscar dizer que há praticamente um barco ancorado nos piers por família que vive na cidade. Como o verão deles é muito curto (Helsinke fica coberta de neve cerca de 4 meses por ano e o norte do país pode ficar até 7 meses), eles aproveitam cada minuto dos longos dias de verão para velejar e fazer tudo que for possível ao ar livre. 




Uma boa parte do seu território norte fica no Círculo Polar Ártico, o que significa que eles tem pelo menos um dia por ano de total escuridão no inverno e de um dia completo de luz solar no verão, o que é conhecido como o sol da meia-noite. Como chegamos no fim do verão, pudemos ver o sol se pondo as 22h e raiando pelas 3h da manhã. Embora fizesse calor ao sol, bastava um sombra para sentirmos um vento polar e começarmos a sentir frio. Era comum estarmos de casacos enquanto os locais usavam poucas roupas. 




Por ser um país muito frio, o cultivo de vegetais é escasso. Por outro lado, o Mar Báltico é riquíssimo em vida, o que faz a culinária tradicional ser baseada em peixes e batatas, provamos uma sopa de salmão com batatas que estava deliciosa! Mas não é só isso que tem pra comer por lá não! É muito comum vermos os mais variados tipos de restaurantes por lá. Encontramos uma feira de rua que tinha pratos de vários países do mundo, até uma barraca com a bandeira do Brasil, vendendo churrasco e fazendo "roda de samba"... Detalhe: aquela era a única barraca com som alto, que dava pra ouvir de longe, invadindo o "espaço sonoro" dos outros restaurantes. Essa é a imagem do Brasil aqui fora.




Podemos dizer que a Finlândia é também a terra dos Vikings, pois o país era parte da Suécia naquela época. Inclusive ainda hoje o Suéco é o segundo idioma oficial do país. É também no norte do país que fica a Lapônia, a terra do Papai Noel, mas acabamos não visitando a região...





Esta é a mais famosa "praia" da cidade! Pelo menos nisso, o Brasil está à frente!

Gostaríamos de ter ficado mais tempo e explorado mais as belezas do país, mas infelizmente tivemos que seguir viagem. É uma terra muito diferente de nosso Brasil e mesmo com todas as adversidades climáticas, eles conseguem ser um país próspero com um índice altíssimo de qualidade de vida.




Nosso primeiro turbohélice da viagem

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Travel log #21 - Russia

(por Everton)

Ufa! Saímos da Índia. 

Por mais que eu tente explicar, dificilmente irão entender como eu me senti no último dia de Índia. Eu estava cantando, animado! Só queria saber de chegar no aeroporto o mais cedo possível, passar na imigração e aguardar na área internacional do aeroporto pelo vôo para a Rússia! É claro que se tratando de Índia, as coisas nunca são tão simples assim! Mesmo tendo chegado com quase 3 horas de antecedência no aeroporto, conseguimos entrar no avião somente uns 10 minutos antes da partida! Que difícil pegar um vôo por lá! Tudo é tão enrolado, mas no final conseguimos sair daquele país!

Voltando à civilização

Talvez esta seja uma expressão um pouco dura, mas foi realmente assim que me senti ao pisar na Rússia...novos ares! Embora a Rússia tecnicamente não faça parte da União Européia, Moscou tem um ar de civilização, organização e limpeza comum aos países do velho continente.

Talvez possam nos perguntar por que saímos da Índia com destino à Rússia sem ter passado pelo Oriente Médio. Eu explico: O inverno da Rússia é um dos mais rígidos do planeta e como não queríamos experimentar o mesmo frio que venceu Napoleão Bonaparte, decidimos pular os países do oriente agora e visitar a Rússia no fim do verão.

O primeiro impacto foi a comida! Como é bom voltar a comer queijos, pães e outros pratos parecidos com a nossa cozinha! Todas as comidas típicas que provamos eram deliciosas. Como foi bom comer salada de novo! Em nenhum país do Sudeste Asiático encontramos isso!




Um país cultural

A Rússia é um país que realmente respira e vive cultura. É impressionante que as pessoas ouvem ópera e música clássica ainda hoje em suas casas. É lindo! Há várias estações de rádio transmitindo os mais variados estilos clássicos. 

Aos caminharmos pelo centro de Moscou, dezenas de músicos de rua tocando adivinha o quê? Música clássica! É simplesmente incrível. Mesmo!

A capital Moscou é uma das cidades mais bonitas que já conheci. É tão perfeitamente conservada e limpa que é impossível descrever. Conhecemos prédios e igrejas mais antigos que o Brasil e num estado de conservação invejável a qualquer país Europeu.





 Os prédios modernos se fundem em perfeita simetria com os centenários edifícios e igrejas e tudo cria uma linda cidade.






O país tem tanta história que até as estações de metrô são decoradas com esculturas. A cada nova estação, parecíamos estar entrando em uma galeria de arte. Estas estações foram construídas em uma época em que o país era estritamente agrícola, justamente com o intuito de chamar a atenção pela modernidade em que o país queria se projetar.





A comunicação

Algo marcante no país foi a dificuldade de encontrar placas e também pessoas que compreendessem a língua inglesa. O governo Russo sempre teve este ar de superioridade e é incrível como eles não se preocupam em colocar as indicações em inglês! Desde que iniciamos a viagem, este foi o país que tivemos a maior dificuldade na comunicação com os locais. Mas graças ao Pasha, nosso amigo russo que nos ensinou o alfabeto cirílico, conseguíamos ler algumas coisas por lá!




Antigo prédio da KGB

Política

Historicamente, o governo Russo foi sempre o "chefe" do comunismo. Após a tomada do poder pelos Bolcheviques e a instituição da União das Repúblicas Solialistas Sovieticas que englobou todo o leste europeu e metade da Alemanha, muito mudou na Rússia. Os "ricos" eram assassinados ou expulsos para longe de suas casas e os grandes apartamentos do centro (antes habitados por eles) eram transformados em "comunas", onde em geral, várias famílias dividiam o mesmo apartamento... a média era de 4 pessoas por quarto. Ou seja, em um apartamento grande era comum encontrar de 4 a 5 famílias dividindo o mesmo teto. 

Naquela época, quem tinha um melhor desempenho nas fábricas, ganhava um quarto ou apartamento mais próximo ao centro. Quem tinha um desempenho ruim, movava nas periferias, e assim se formava a sociedade russa da época. Muitas das estátuas que vimos, mostravam homens e mulheres fortes, trabalhadores, e jamais os livros, a sabedoria, o que para os comunistas, era perigoso! Para o regime vermelho, o que importava era a força operarária (certo, companheiros?!).

Ouvimos relatos de pessoas sobre como era aquela época e comentaram que não haviam opções para nada que quisessem comprar. Quer um refrigerante? Só existe uma marca. Quer um sapato? Só existe uma marca! E assim acontecia com tudo... A religião era fortemente combatida pelo Estado. Apesar da Rússia ser formada em sua maioria por cristãos ortodoxos, na visão do governo da época, a religião era vista como uma ameaça ao regime. 

Não quero aqui entrar mais profundamente no assunto, pois não tenho a intenção de dar uma aula de história (até porque não sou professor), mas ficou mais do que evidente que após a queda do comunismo (depois que a Rússia passou pela maior crise da sua existência) e a abertuda das portas aos investimentos e relações internacionais, que a condição geral de sua população melhorou muito. 
O que vimos na Rússia atual foi um país muito moderno e com muitos ricos e cidadãos bem capitalizados. Encontramos as mais caras grifes do mundo e também muitos carros de luxo pelas ruas. 

O fato é que ainda hoje, a Russia não é um país realmente democrático. Em geral, percebi que os Russos admiram o Putin, que já está há uns quase 15 anos no poder. Apesar de ele ser quem ele é, aparentemente os cidadãos são gratos ao que ele fez pela economia e não enxergam outro político capaz de liderar o país daqui para a frente.

Após tantos exemplos de que o comunismo não funciona, eu realmente não consigo entender o que países como Venezuela, Cuba, Colômbia e até o PT em nosso Brasil ganham em insistir neste regime falido. Está mais do que na hora de derrubar as bandeiras vermelhas da América Latrina e começarmos o desenvolvimento e civilização do nosso continente.

Antiga capital

Também visitamos São Petersburgo, cidade conhecida como a capital cultural do país. O que encontramos foi outra cidade extremamente limpa, bem conservada e mais preparada para receber turistas. Muitos prédios históricos, igrejas e o Mar Báltico, que faz ligação com os países escandinavos e outros mares afora. A cidade é bela, mas particularmente, gostei mais de Moscou!






E assim terminamos nossa visita à Russia. Um país realmente impressionante e que eu voltaria com toda a certeza! 

PS.: Desculpas aos nossos amigos pela falta de contato. Nossos dias tem sido realmente cheios. É difícil de imaginar, mas temos sempre que nos planejar para os próximos destinos e nem pra isso temos tempo suficiente. Aos amigos: estamos bem, não se preocupem!

PS 2.: Dia 23/08 (em dois dias) completaremos 6 meses de viagem!!

domingo, 9 de agosto de 2015

Travel log #20 - Índia, à flor da pele


(Por Everton)

Uau! Chegamos na Índia!

Estar neste país foi algo tão chocante que não sei nem por onde começar os relatos... Vamos pelo começo, ou antes dele.


Estação de trem: Enquanto o sem-teto descansa no meio do saguão, a vaca também aproveita a sombra...

A preparação

Antes de virmos para cá, já tinhamos a idéia de que seria uma realidade completamente diferente do que estávamos acostumados. Ouvimos diversas vezes a frase: "Índia: ou você ama ou você odeia já nos primeiros minutos". 

Conversamos com pessoas que disseram ter vindo em busca de experiencias espirituais e que tinham tido ótimas experiências. Já a outra grande maioria dos viajantes que já haviam passado por aqui, disseram para virmos preparados, pois sentiríamos um impacto.

Eu já sabia que a comida seria um fator complicante, por conta da minha alergia à pimenta e comidas muito condimentadas. Sim, eu sobrevivi à todo o Sudeste Asiático, conseguindo me esquivar dos inúmeros tipos de "Chili" e outras coisas picantes, mas eu já havia lido que aqui seria diferente, pois os molhos que eles geralmente usam na comidas já vem apimentados, então o meu plano para a comida seria passar os 15 longos dias comendo apenas biscoitos industrializados e tomando suplemento vitamínico. Sei que parece exagero, mas verão que não foi tanto assim. Lemos relatos de fontes confiáveis de que turistas morrem todos os anos por intoxicação alimentar aqui e pra coisa fica ainda mais crítica: Já foram descobertas falcatruas onde hospitais importantes (aqueles que os turistas procuram) pagavam restaurantes pra servir comida estragada para turistas e então ganhar depois pelos tratamentos. Devido à severidade de alguns casos, essas pessoas vinham à óbito. Animado pra comer na Índia?  

Este é um país superpoluloso, com mais de 1 bilhão e 200 milhões de pessoas. Multi religioso, cheio de superstições, onde os casamentos ainda são arranjados e o índice de suicídio de mulheres recém casadas é altíssimo (foram cerca de 78 mil em 2010!). As mulheres são obrigadas a se casar muito cedo e geralmente com homens mais velhos (de 10 a 15 anos a mais). Essa diferença de idade ficou bem evidente enquanto estivemos no país.

Mas por mais que tenhamos tentado nos preparar "para o pior", a preparação nunca é suficiente quando se trata deste país. 

A chegada.

Chegamos em uma cidade litorânea do leste, chamada Visakhapatnam. O motivo? Uma promoção de passagem aérea e tíckets com um preço ótimo saindo da Tailândia. A cidade não é turistica em nada, o que seria ótimo para sentirmos o país como ele realmente é. Com exceção de um alemão que conhecemos no aeroporto, fomos os únicos estrangeiros a vir naquele vôo com 'aromas da Índia'.

Já no caminho do Aeroporto para o hotel, passado da meia noite, andando de Tuc Tuc num preço superestimado, percebemos o que nos aguardava nos próximos dias. O que vimos: Muita sujeira e lixo pelas ruas. Não, não eram uns papéis de bala jogados na rua. Eram montes de lixo mesmo! E no meio das ruas ou do lixo, vacas, bois, carneiros e até porcos. Nem tente imaginar o cheiro, você não conseguirá sem estar aqui. Este lixo todo nas ruas é algo tão normal que as pessoas apenas desviam dele enquanto as vacas (animais sagrados por aqui) se alimentam. 




Ao chegar no hotel, quase uma hora da manhã, fomos recepcionados por baratas em nosso quarto, sem contar no banheiro que acho que nunca foi limpo desde a inauguração do hotel, há uns 50 anos atrás. Era simplesmente nojento, mas tudo bem, depois descobriríamos que aquele hotel não era o pior do país.

No dia seguinte saímos pra conhecer a cidade e a praia que estávamos ansiosos por ver. No caminho, enquanto a Lisa tirava fotos do monte de lixo em frente a um hospital, um morador veio me perguntar por que ela estava tirando foto do lixo. Eu disse "isso é novidade pra gente, vamos guardar nas memórias da viagem"... Se mostrando incomodado, ele disse, "é pra mostrar pros amigos? Tem coisas mais bonitas pra tirar fotos". Eu agradeci a sugestão e seguimos rumo à praia. Ao chegarmos, pensa na muvuca! Milhares de indianos nas areias da praia. Todos de roupas normais (nada de biquinis) e muitos se banhando nas águas do mar de bengala que estava bem agitado naquele dia.






Outra cena bem normal é ver os homens urinando na rua. Ninguém passa aperto por lá! Vimos dezenas e dezenas de pessoas simplesmente parando seus carros pra dar uma "mijadinha". Certa hora me perguntei: "será que a polícia não faz nada quando vê alguem fazendo isso?" e então vi um carro de polícia parado e o policial fazendo exatamente o mesmo! 

Queríamos sair daquele lugar e pra nossa sorte, conseguimos comprar para o mesmo dia uma passagem para o próximo destino, uma região de tribos bem no interior da mata. A compra da passagem foi uma outra maratona. Os atendentes simplesmente pareciam não querer nos atender e sempre nos mandavam "para o próximo guichê". Pior do que isso foi quando constatamos que os indianos simplesmente não respeitam o conceito de fila. Apesar das placas pedindo a organização em linha, eles simplesmente se amontoam na frente do guichê. Quando estava quase chegando a minha vez, mais um entrava pelo lado e assim ia até eu começar a dar cotoveladas pra chegar a minha vez! Ô stress!

Depois de quase um dia viajando de trem, chegamos ao nosso destino, onde conhecemos um hospital de olhos que presta tratamento gratuito aos moradores pobres das tribos da região. Este hospital recebe dezenas de pessoas todos os dias para cirurgias de cataratas e diversos outros problemas e funciona com doações. Foi bom passarmos uns dias isolados no meio da mata.

De lá, resolvemos ir à Calcutá, depois que uns alemães comentaram que a cidade teria bastante opções. Inicialmente, não tínhamos este plano, pois a cidade é uma das maiores do país e em cidades grandes é sempre mais difícil e cara a locomoção e hospedagem. A cidade  até que não é tão suja como a primeira que visitamos e o metrô funciona bem. Foi lá que fomos em um cinema, assistir a um filme de Boliwood e foi muito legal, mesmo sem legendas! O povo vibra com o filme! Eu recomendo ter esta experiência se você estiver visitando o país! O problema nesta cidade foi a enchente que pegamos quando precisávamos ir para a estação de trem. Tinha chovido tanto desde o dia anterior, que as ruas estavam cheias de água. 
Sim, foi na Índia que tivemos a primeira experiência de nossas vidas de caminharmos em ruas alagadas pela enchente. Justo neste lugar, onde o lixo se mistura com a paisagem. Esta foi até agora a experiência mais desagradável de toda a viagem. Assim que chegamos na estação de trem, fomos correndo nos lavar para tentar acabar com qualquer chance de doença.

Antes de falar sobre nosso próximo inesquecível destino, quero comentar sobre outra coisa que chama muito a atenção por aqui. Vimos muitos homens andando de mãos dadas ou abraçados como se fossem namorados. Isso chama muito a atenção, principalmente devido ao fato de ser proibido qualquer demonstração pública de afeto entre homens e mulheres. Os casais raramente andam de mãos dadas e nem nos filmes é possível ver uma cena de beijo entre um homem e uma mulher. 

Os indianos tem um conceito de espaço privado bem diferente do nosso. Independentemente do lugar que você estiver, certamente alguém irá se encostar ou esbarrar em você. O que para nós incomoda pela proximidade, para eles é normal.




Espiritualidade

Nosso próximo destino foi Varanasi, a cidade sagrada dos hidús. Pra quem não sabe, esta é a cidade por onde passa o Rio Ganges, o ponto alto da viagem pra mim. Este rio é sagrado para os hindús e segundo a crença deles, quem é cremado neste rio vai direto para o "nirvana", sem outras reencarnações. Eles creem em algo como se o Rio viesse diretamente do céu. 


Indianos se banhando no poluidíssimo Rio Ganges


Varanasi é uma das cidades mais antigas da humanidade, tem mais de 8000 anos. Encontramos ruas muito sujas e mais um lugar cheio de vacas pelas ruas. O trânsito é ensurdecedor, difícil de imaginar. Simplesmente não dá pra entender o por quê de eles buzinarem tanto! 

O ponto alto desta cidade foi quando fomos assistir às cremações, que acontecem a céu aberto, à beira do Rio Ganges. Os corpos são trazidos em uma espécie de maca de bambú envolto em tecidos. O cortejo vem pelas vielas da cidade acompanhados de cânticos. 
Somente os homens podem participar do evento, já que as mulheres choram e dessa forma não deixam o espírito da pessoa livre. Infelizmente não pudemos tirar fotos das cremações, então vou tentar explicar como isso ocorre.


Pilhas de lenha usadas nas cremações


Primeiro, o corpo é lavado no Ganges e depois colocado sobre uma pilha de madeira, como uma fogueira de São João. Os familiares então jogam uma espécie de serragem sobre o corpo e também o que chamam de gordura de vaca. Esta "manteiga" ajuda o corpo a pegar fogo mais facilmente e segundo eles, faz com que o cheiro não seja ruim. Quando o corpo está sobre a pilha de lenha, um membro da familha traz o fogo, que foi aceso em um templo próximo e após algumas cerimônias, o corpo é incendiado. 

Cada cremação necessita de aproximadamente 300 kg de madeira, demora cerca de 3 horas e em cada local (chamado de Ghat) são cremados entre 100 e 150 corpos por dia. O mais curioso é que mesmo após as 3 horas, os corpos não queimam por inteiro. Pelo que li, o que sobra é uma parte da bacia e dos ombros, mas o que se vê é um "bolo" de carne preta cheirando a queimado, que é jogado no rio sagrado. 

Algumas pessoas não são cremadas, como mulheres grávidas, crianças, pessoas "santas", pessoas picadas por cobras e doentes de hanseníase. Essas pessoas são simplesmente amarradas à pedras e jogadas no Rio. Segundo entendemos, a cremação serve como uma purificação e essas pessoas já estariam purificadas. Também nos contaram que as vezes os corpos se soltam das pedras e voltam à superfície tendo assim que ser novamente presas à pedras e afundadas. Algumas famílias pobres que não tem dinheiro para comprar madeira para a cremação, também simplesmente afundam seus familiares.

Para terminar as histórias de Varanasi, ficamos sabendo que mesmo com a poluição incrível do rio, ele é cheio de peixes (que tem comida farta nos corpos em decomposição no fundo do rio) e por isso, a culinária local é famosa por seus pratos a base de peixe. Nós não fizemos questão de provar!

A nossa próxima parada foi em Delhi, a capital. Uma megacidade, com seus 20 milhões de habitantes. Trânsito pesado, mas um sistema de metrô muito bom. Aqui foi onde constatamos a maior perda cultural dos indianos, relacioandos às roupas. Em lugares que visitamos mais ao sul e mesmo em Varanasi, as mulheres estavam na quase totalidade vestindo seus sarís e kurdis coloridos, mas em Delhi, a influência ocidental é maior e muitas mulheres já não usam mais as roupas tradicionais. Delhi foi talvez a cidade menos impactante para mim e foi onde passamos 3 dias em um Ashram, uma espécie de  centro de meditação e Yoga. Estes centros (muito famosos no país), embora sejam ligados à religiões, recebem pessoas de todas as crenças para formarem instrutores de Yoga e meditação. Foram dias interessantes!

Além dos trens e metrôs que funcionam de uma forma muito boa, gostamos de descobrir que na Índia todos os produtos industrializados vem com uma incrição mostrando o preço máximo ao consumidor. Para nós, estrangeiros, isso foi ótimo, já que nos outros países da Ásia nós quase sempre pagávamos a mais em produtos sem o preço etiquetado! Não sei até que ponto isso é saudável para a economia, mas realmente gostei de não ser explorado aqui com os preços!


Cena pitoresca: sem-teto se banhando na rua

Conhecemos algumas pessoas na viagem que foram excelentes conosco e isso é o que levamos de bom de nossa viagem por aqui. Desconhecidos que cruzaram nosso caminho e nos mostraram um pouco mais dos costumes e cultura deste país! Valeu a experiência!