Casal Mundo Afora - Registros de uma viagem mundo a afora.

domingo, 21 de junho de 2015

Travel log #17 - Vietnam - De sul a norte



(por Everton)

Depois de nossas aventuras pelo Mianmar, o país mais diferente e quente que já visitamos, chegou a hora de rumarmos ao leste novamente e chegar em um dos países que eu mais queria visitar nesta viagem, o Vietnã.

Desde minha infância, me lembro deste país pelos filmes do Rambo e outras dezenas mais de enlatados americanos, que quase sempre mostravam o mesmo enredo: batalhas entre bravos e heróicos estadunidenses contra os mirrados vietcongues. Seja pelo cinema, ou pela canção "Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones", esta terra sempre me despertou uma tremenda curiosidade em conhecer suas selvas, rios e os locais que abrigaram importantes batalhas da guerra entre o Vietnã do Norte (comunista, apoiado pela China e Rússia) e o Vietnã do Sul (apoiado pelos EUA e dezenas de outros países).


Que surpresa maravilhosa tivemos ao chegar na antiga capital do sul, Saigon, hoje chamada de Ho Chi Minh City. Uma cidade moderna, bem estruturada e com um trânsito de milhares e milhares de motocicletas. Rapidamente percebemos que nada mais era como mostrado no cinema.

Em Ho Chi Minh foi onde encontramos talvez a cerveja mais barata do mundo. Apenas R$ 0,75 por uma garrafa de 450ml da Bia Saigon. Dá pra imaginar por que encontramos a cidade tomada de turistas, não é? Percebemos muitos jovens de todas as nacionalidades circulando pelas ruas e os bares e baladas lotados.

E não é só a cerveja não! Tudo aqui é barato. Um sanduiche estilo Subway (feito nas ruas e chamado de Banh Mi) custa cerca de R$2,50. Outros pratos de comida local, geralmente custam entre 1 e 2 dólares. O transporte é incomparavelmente mais barato que no Brasil. Um ônibus partindo do sul ao norte do país, com direito a 4 paradas pelo caminho (sim, você pode ficar uns dias em uma cidade e depois continuar a viagem com o mesmo ticket) custou menos de R$ 90,00 por pessoa. Na cidade de Hue tivemos a melhor experiência com hotel de toda a viagem: um hotel comparável ao Mercure no Brasil, com um café da manhã maravilhoso e até banheira por cerca de R$ 40,00 a diária.



Ainda no sul, tivemos a oportunidade de conhecer uma região com diversos túneis,  usados pelos vietcongues durante a guerra. Visitamos os Cu Chi Tunnels. É impressionante que nesta região,  próxima à Ho Chi Minh city exista mais de 200 km de tuneis. Os túneis são super apertados e é praticamente impossível um ocidental conseguir de mover lá dento. Nosso guia no passeio foi um ex-soldado da guerra do Vietnã e nos contou muitas histórias daquela época... e eu experimentei uma das centenas de entradas dos túneis que ficavam camufladas na floresta.



Natureza exuberante, rica história, praias, florestas, comida... Este país nos encantou bastante e acho que foi onde mais nos sentimos em casa em toda a Ásia!

Ainda estamos no meio da viagem por estas paragens, mas já sabemos que ficaremos com saudades...


Obs: Fizemos o upload de várias novas fotos no Flickr!  Basta clicar no menu FOTOS acima para ver os álbuns!

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Travel log #16 -100 dias mundo afora. Um balanço de nossas aventuras até aqui.


(Por Everton)

Quando olhamos para trás, não parece que já se passaram 100 dias desde que embarcamos neste sonho. Cem dias longe de casa, da familia, dos amigos, dos queijos e do churrasco! Ah que saudades de comer aquela costela fogo chão!!

Até agora já foram 7 países. Sim, estamos no sétimo país em pouco mais de 3 meses. Quando comentamos isso com outros viajantes, não são raros os questionamentos do por que toda essa pressa. Embora eu não diria que estamos com pressa, tenho que concordar que nós exploramos pouco alguns países.

O país mais barato até agora foi a Indonésia. Era muito comum pagarmos cerca de 10 dólares por um quarto de hotel e na maioria das vezes com ar-condicionado. A comida também era barata, entretanto a adaptaçao foi um pouco mais difícil por conta da quantidade de pimenta e frituras que eles consomem. Tudo é frito lá: Carnes, arroz, tofú, macarrão, legumes e até frutas! Tudo sempre "pingando gordura".

Na Ásia, o lugar mais fácil de comer foi na Malásia. Não foi o local mais barato, mas a variedade de comida é muito grande. A Lisa adorou vários pratos do país e a bebida que ela mais gostou foi o chá gelado, tanto da Malásia quanto da Tailândia.

O costume mais diferente que percebemos na Ásia é bastante asqueroso para nós ocidentais. As pessoas estão sempre escarrando e cuspindo na rua. Não importa onde você estiver, terá de se acostumar com o som de escarradas generalizadas. No Mianmar a situação é ainda mais diferente, já que todos aqui tem o costume de mascar uma planta, chamada betel. As folhas de betel, misturados à outros ingredientes, ganham a cor vermelho vivo e conforme eles mascam isso o vermelho vai sujando os dentes e formando uma meleca na boca que envolve os lábios. Aí começam as cuspidas de cor-de-sangue pelas ruas, calçadas... O curioso é que, mesmo quando vamos conversar com essas pessoas, elas continuam a mascar o betel e mal conseguem falar. Andando pelas ruas, é fácil ver no chão as manchas avermelhadas, resultado das escarradas de betel. As pessoas tem dentes sempre sujos de vermelho. Chega uma hora que só o cheiro do betel já dá um enjôo.

Falando em diferenças, o Mianmar também figura como o país mais diferente até agora. Sua cultura permanece muito forte e evidente, com os homens ainda usando longyis (uma saia) e no interior, vimos pessoas ainda morando em casas feitas 100% de bambú, assistimos muitos tomando banho e lavando roupas em rios, assim como mulheres carregando bebês nús em seus quadris. Costumes relatados no livro "Dias na Birmânia", de George Orwell, escrito há mais de 80 anos, que ainda são comuns. Sua agricultura ficou parada no tempo e os campos continuam abarrotados de trabalhadores braçais.
A religião budista também é responsável pela paisagem mais fantástica que vimos até agora: as mais de 3000 estupas, templos e pagodas espalhados por Bagan. O cenário é inspirador e de tirar o fôlego.



Não podemos deixar de comentar sobre as mulheres muçulmanas da Malásia, que mesmo na praia ou em rios, não tiram seus véus e usam roupas compridas para se banharem nas águas. Com temperaturas próximas dos 40°C, não tem como não acharmos curioso que até snorkeling elas faziam, mas sempre cobertas dos pés à cabeça.

Somente viajando para entender o que 'globalização' significa. Com exceção do Mianmar que somente agora está abrindo as portas para o mundo após um longo período de regime militar, em geral os demais países possuem uma boa infra-estrutura, muitas vezes melhor do que o nosso Brasil. Produtos de marcas famosas podem ser encontrados em grande escala e não é complicado se virar por aqui. O inglês é em geral bem compreendido no comércio, com exceções, é claro, mas sem sombra de dúvidas a Ásia está há anos luz à frente do Brasil com relação à língua inglesa.

Para finalizar, quero falar sobre a parte que mais vale a pena em toda esta jornada: As pessoas. Como é energizante receber os olhares curiosos e os sorrisos de pessoas simples que tentam se comunicar conosco. A Indonésia foi o local que mais nos pararam para tirar fotos! Sim, pessoas simplesmente nos paravam nas ruas e tiravam fotos conosco. Era comum ouvir "Hey Mister" diversas vezes ao dia e sempre acompanhado de simpáticos sorrisos. Aqui no Mianmar, as pessoas em geral são mais tímidas, mas mesmo assim com olhares curiosos e tentando se comunicar. Aqui foi o lugar que mais recebemos sorrisos. Sorrisos tímidos é verdade, mas com uma profundidade impossível de descrever nestas linhas.
Ontem mesmo, enquanto andávamos de bicicleta no interior de uma cidadezinha, paramos em uma pequena propriedade rural com a intenção de comprarmos alguns tomates que vimos aos milhares sendo separados por trabalhadoras. Para nossa agradável surpresa, o dono da propriedade nos convidou para entrar em sua casa, nos serviu um chá e além de não cobrar nada pelos tomates, ainda nos presenteou com um pacote de chá verde, tradicional no país.

As oportunidades que tivemos em estar na casa de pessoas e conviver, mesmo que por dois ou três dias com elas, nos abrem os olhos e nos faz sentir a verdadeira cultura dos países, os relacionamentos entre as famílias, as crenças, a comida e os rituais. As experiências que já vivemos nestes primeiros 100 dias não podem ser lidas em livros, vistas em filmes e nem baixadas em aplicativos para celular. Isso é o que faz viajar valer a pena. O contato com as pessoas, os olhares curiosos e a vontade que as pessoas tem em se comunicar, em nos conhecer. As experiências com a comida, a barganhas nas feiras, enfim...

Já fizemos amigos que levaremos pelo resto de nossas vidas e estamos só começando a nossa viagem. Só foram 100 dias e, embora as vezes as dificuldades nos façam querer estarmos no abrigo de nossa casa, as experiências que estamos vivendo não tem preço e a vontade de continuar é sempre maior.

Que venham os próximos 100 dias!

Um abraço!